terça-feira, 13 de setembro de 2011

Mora comigo

“Trouxeram ramos e fizeram para si cabanas, cada um no seu terraço”
Neemias 8.16
Não posso explicar o que nós temos. Ele me conhece como ninguém. Estava lá quando o sol não brilhou e quando as estrelas sumiram do céu. Contou cada lágrima, como conto as gotas de chuva na janela e os dias para que o Natal chegue. Estava lá na primavera, andando comigo entre as flores, distribuindo sorrisos. Entregou-me aquela rosa vermelha
 e me ouviu contar a mesma história milhares de vezes. Caminhamos na praia e nossas pegadas ficaram na areia.
Ninguém, como Ele, sabe de minhas manias e, quando acordo, pode dizer como o dia será pelos sonhos que tenho. Conhece meus sorrisos e a falta deles, cada olhar, cada gesto. Entende meu silêncio e o excesso de palavras. Observa-me por longos minutos. Não tenho como fugir da profundidade deste olhar. Contei para Ele, apenas para Ele, cada uma das dores e também os sonhos e as convicções. Só então descobri: o que me move é o mesmo de seu coração.
Somos mesmo parecidos. Dividimos o mesmo quarto há tantos anos! Já nem sei o que sou eu ou Ele. Acorda comigo e, à noite, observa-me até fechar os olhos. Ajudou-me a escolher o melhor creme para as mãos, o perfume das ocasiões especiais. Lembra as frases que me marcaram em cada livro, o momento do filme que mais me emociona, a música certa de cada cena e aquela que ouço quando não quero ouvir mais nada. Combinamos juntos para quem ligo se quero gritar e a roupa para usar no dia seguinte. Sabe que não posso ver o cesto de lixo cheio ou as coisas fora do lugar. Todas as manhãs, retira as sobras, varre o chão e ajeita a cortina na janela. Por estar tão próximo, deixo-lhe saber das teias de aranha debaixo da cama, o cheiro de meu sabonete, minha expressão enquanto durmo, a cor da caneta em meu caderno de rabiscos. Para Ele, e só para Ele, mostrei a foto e a carta guardadas nas folhas do meio de minhas recordações. Por confiar, dei-lhe a chave que abre minha caixa de lembranças.
Sei que Ele me ama. Presenteia-me com chá quente, bolinhas de chocolate e minha revista preferida quando as tardes parecem infindáveis. Assiste comigo àquela pregação que já vi tantas vezes, depois me chama para o episódio final daquela série. Sentamos juntos no gramado, saímos para dar uma volta até a padaria, comer pão de queijo e tomar um café. Quando estou doente, surpreende-me com batatas e afeto. Senta-se ao meu lado na cama e oferece seus escritos e uma história antiga. Outro dia, deixou que deitasse em seu colo ao esperar pela chegada do médico. Ao sentir-me melhor, levou-me para jantar num lugar romântico depois de um longo passeio. Abraçou-me ontem quando chorei. Hoje orou comigo por nossos ideais.
Para o estresse, chocolate. Para a saudade, pão com açúcar. Para a irritação, carvão. Para a alegria, valsa. Para a dor, palavras. Quem, além dele, poderia saber todas essas coisas? Como se pode ver, estamos conectados. Acreditamos um no outro. Deus? Ele dorme na cama ao lado.

Texto extraido do Ultimato Jovem

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